16 de março de 2010

Pacientes retornam sem atendimento médico



“Meu filho não para de vomitar e minha mãe está com uma dor terrível no estômago. E o pior é que não nos atendem, não nos dão satisfação. Nos mandaram para outro centro de saúde, que eu nem sei onde é. Sou da Bahia, sou nova em BH e ainda não conheço nada aqui”. O desabafo da doméstica Maria Nascimento, 32 anos, sintetiza o cenário vivido, na manhã de segunda-feira (15), na entrada do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), na capital. De 7 às 16h40, das 84 pessoas que procuraram assistência médica no local, apenas 13 foram atendidas. Os médicos do HPS entraram em greve, por tempo indeterminado. Somente casos com risco iminente de morte estão sendo atendidos.
A cena na entrada do HPS foi repetitiva. “Não fiquei sabendo de greve. Só sei que é um absurdo. Sofri um acidente e meu nariz sangra há sete dias. Estou com medo de ser algo mais complicado. Vim aqui na quinta-feira (11) passada e me mandaram voltar na segunda. Agora, querem que eu retorne na quinta que vem. Estou nesse vai e vem sem receber qualquer tipo de ajuda”, reclama Raoni Alves, 20 anos.
O médico Carlos William Delfim, da comissão de mobilização do João XXIII, diz que pelo menos até quinta-feira (18) a paralisação vai continuar. “Cerca de 95% dos médicos do HPS são a favor do movimento e até da paralisação total. Vamos decidir tudo em uma assembleia, amanhã, às 19 horas. Com o apoio do Sindicato dos Médicos (Sinmed-MG), reivindicamos aumento de salário e nova organização humana. Muitos médicos veteranos estão saindo e os novos não querem entrar”, conta Delfim.
Ainda segundo ele, mais de 50% dos profissionais aprovados no concurso de 2007 para integrar as equipes desistiram de suas vagas, “pois o vencimento base de R$ 2.400, por 24 horas de plantão, não é nem um pouco atrativo para a carga de trabalho”.
O clínico José Brasil afirma que o Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) têm conhecimento da greve e já evitam enviar pessoas ao HPS quando os casos não oferecem tanta gravidade. Ele diz que BH tem outros locais preparados para este tipo de atendimento, como os hospitais Odilon Behrens e Risoleta Neves. Observa ainda que quase metade dos 350 atendimentos diários do HPS deveriam ser encaminhados a outros centros de saúde. “O João XXIII é para casos de urgência e emergência. Muitos pacientes, por exemplo, com quadro de conjuntivite ou pequenas lesões vêm para cá e acabam ocupando o espaço de quem realmente precisa”, alega.
Diante das circunstâncias, o pizzaiolo André Ferreira da Silva, 35 anos, aparentava estar aliviado e se sentindo um sortudo. Com 35% do corpo queimado há três meses, ele conseguiu uma consulta de retorno, que estava previamente agendada. “Sinto muitas dores na perna. Se não conseguisse o atendimento, certamente procuraria outro hospital, pois ainda não estou recuperado. Ainda bem que fui tratado”, comemora.
Já o aposentado Rodrinho Marinho, 91 anos, chegou de ambulância e foi prontamente levado à emergência. Com hipertensão, diabetes e sangramento nasal, o seu caso foi avaliado como grave. “É o mínimo que eles deveriam fazer. Meu marido sempre pagou INSS e seria absurdo se não o aceitassem”, afirma sua mulher, Maria José Marinho, que o acompanhava preocupada.
Em um ano e meio, as equipes médicas organizaram 13 paralisações no HPS. A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) comunicou que ainda está em negociação com os médicos e que no decorrer desta semana, em conjunto com a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), vai apresentar uma proposta ao Sinmed. Segundo o sindicato, uma proposta informal, apresentada ontem, foi recusada. Os índices não foram divulgados.
...Fonte: "Jornal Hoje em Dia"

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