19 de março de 2010

Dengue cresceu 153% e se alastra diante do descuido



Mais de 60 pessoas, diariamente, chegam à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Venda Nova, em Belo Horizonte, com sintomas de dengue. No início do mês, esse número correspondia a quatro por dia, com queixas da doença. Até o momento, a capital registrou 9.382 notificações da doença, com aumento de 61%, em uma semana. E no Estado, na comparação entre os dois primeiros meses de 2009 e 2010, o aumento é de 153%. Neste ano morreram 12 pessoas por complicação da doença ou febre hemorrágica, faltando confirmação de 16 casos. Em 2009, foram 24 no total, em Minas.
Venda Nova lidera os casos na capital. Enquanto a dengue se alastra pela região, ao lado da UPA, um casarão histórico acumula lixo e serve de reservatório para as larvas do mosquito transmissor da doença. Para piorar, carros fumacê que poderiam ser usados em ações de combate, não são utilizados pela Prefeitura de Belo Horizonte e estão parados no pátio de manutenção.
A Região de Venda Nova apresenta 1.241 confirmações de dengue. Na UPA do bairro, foi instalado um contêiner para atendimento a pacientes com suspeita da doença. A dona de casa Odila Ferreira, 74 anos, foi ao local ontem com o filho Edimilson Souza, 38 anos. O rapaz se queixava de mal-estar há mais de uma semana. “Ele está muito debilitado”, contou Odila. Quem também reclamava de dores no corpo e suspeitava estar com dengue era o operador Jefferson Douglas, 24 anos. “Já tem quatro dias que não trabalho”, disse. De acordo com a gerente da UPA Venda Nova, Raíssa Soares, somente na última semana, 480 pessoas deram entrada no centro de saúde com sintomas da doença.
Em meio aos esforços de mobilização contra a dengue, imóveis abandonados e baldios, da própria Prefeitura, ainda representam obstáculos à eliminação de focos transmissores. Bem ao lado da UPA Venda Nova, o casarão azul e branco do bairro, em vez de guardar a memória da capital, se transformou em problema. Latas vazias, copos plásticos e garrafas podem contribuir para a proliferação do mosquito. Segundo a Regional Venda Nova, o local – que será transformado em escola – é limpo a cada 60 dias. Ainda conforme a regional, uma equipe será enviada para fazer a limpeza.
No momento em que os números de casos de dengue avançam assustadoramente no Estado, carros fumacê, usados em ações de combate à doença, estão estacionados no pátio de manutenção da Secretaria Estadual de Saúde, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A reportagem do HOJE EM DIA foi ao local na tarde de ontem e contou 17 veículos, entre caminhonetes Ranger e S10, parados no local. O número representa quase metade dos 40 carros existentes na Central da capital.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o município não utiliza o fumacê desde 2000. Segundo a assessoria, estudos mostraram que o uso da técnica não era eficaz. “Quando o carro passava, a população costumava fechar as portas e janelas e o objetivo de eliminar o mosquito não era alcançado. Além disso, o uso do fumacê causava grande impacto ambiental”, informou, em nota, a SMS.
A gerente de vigilância ambiental da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Talita Chamone, disse que os carros são utilizados em outras cidades da Região Central e Centro Oeste do Estado. Além dos 40 veículos que atendem as cidades próximas a Belo Horizonte, outros 40 automóveis operam no Triângulo e Norte de Minas. Talita nega negligência na falta de utilização dos veículos. Segundo ela, os carros flagrados pela reportagem no pátio estão em manutenção, assim como as bombas de fumacê. “O desgaste destes veículos é muito grande e a manutenção precisa ser feita periodicamente. Não há problema algum. Os carros que estão no pátio precisam desta manutenção constante para a eficiência do serviço”, afirmou Talita Chamone.

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