12 de agosto de 2010

Apesar da queda do número de casos, doença provoca alerta


Apesar de o número de casos de dengue em Belo Horizonte apresentar queda – foram 980 confirmações nos últimos sete dias contra 1.433 na semana anterior – as autoridades estão em alerta máximo. Isso porque os registros da doença aumentaram 1.815% de 2006 até 2009. De janeiro deste ano até agora, de acordo com o balanço da dengue divulgado nesta qarta-feira (11) pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a capital teve 63.981 notificações, das quais 49.023 foram confirmadas. Outros 4.038 exames aguardam o resultado.
A preocupação é válida porque o Ministério da Saúde (MS) anunciou que um novo subtipo da dengue pode ter chegado ao Norte do país. É o do tipo 4, que deixou de circular no Brasil há 29 anos. As autoridades de Saúde de Roraima aguardam o resultado de quatro exames para confirmar se o DEN-4 é o responsável pelos casos. “Já era de se esperar, pois este tipo está presente na Venezuela. Porém, nada poderia ser feito. Não temos como fechar as fronteiras. As pessoas estão viajando o tempo todo”, observa a infectologista e professora da Faculdade de Medicina da UFMG Regina Lunardi.
A especialista explica que o DEN-4 não é mais perigoso que os outros tipos. Porém, confirmada a aparição desse, toda a população pode estar sujeita a ser infectada. “Não temos imunidade”, alerta. E, ainda de acordo com ela, não é necessário ter tido os tipos 1, 2 ou 3 para contrair o mais novo. “Não é uma escadinha. Ao ser infectada, a pessoa fica imune para sempre àquele tipo que foi infectada. Durante três meses, ela também estará imune aos outros tipos, mas poderá tê-los depois. Nada impede de uma pessoa que nunca teve dengue contrair o tipo 4 agora”, salienta. O problema é quando uma pessoa contrai a primeira vez, seja ele qual for o tipo. Isso porque, na segunda vez que for contaminada, ela corre o risco de desenvolver a forma mais grave da doença.
Além do DEN-4, o secretário-adjunto de Saúde, Fabiano Pimenta, reiterou que o vírus DEN-1 foi reintroduzido no país. O auge dele foi em 1998, quando quase 90 mil pessoas foram infectadas na capital. Na época, foram três mortes. “Por isso um maior número de doentes hoje. Muitas pessoas não estão imunes a ele também”, afirma. Para o secretário, as mudanças climáticas dos últimos anos contribuíram em muito para o aumento dos casos de dengue não somente em Belo Horizonte, mas em todo o país.
O técnico em informática Tiago Silva, 21 anos, sabe muito bem o que foi essa explosão de casos em 2010. Na casa dele, no Bairro São João Batista, Região de Venda Nova, foram sete pessoas picadas pelo Aedes aepypti. “Começou comigo, há uns cinco meses. Depois foi meu irmão, minhas irmãs”, relembra. “Aqui em casa fazemos a nossa parte. O problema é que vizinhos não cuidam do próprio quintal”, afirma o músico Paulo Henrique Silva, irmão de Tiago.
A batalha contra a dengue poderia ser vencida se uma vacina já tivesse sido criada. Porém, a expectativa mais otimista do Ministério da Saúde é de cinco anos para ela começar a ser aplicada na população. O grande desafio, de acordo com o infectologista José Geraldo Ribeiro, é que existem quatro tipos de dengue. “A vacina tem que priorizar os quatro tipos de uma vez só, nem que seja em uma, duas ou três doses”, explica.

Típica de países em desenvolvimento

Apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos principais problemas de saúde do mundo, a dengue é típica de países em desenvolvimento e com poucos recursos. Segundo especialistas da área de Saúde, esse seria um dos fatores para que as referências na fabricação de vacinas, instaladas em países mais ricos, não darem atenção ao problema. A entidade estima que, a cada ano, entre 50 e 100 milhões de pessoas são acometidas pela doença em mais de 100 países. Na Europa, no entanto, o número de casos é bem menor.
A professora Regina Lunardi destaca ainda que muitas pessoas tiveram dengue mas não sabem. Como os sintomas são muito parecidos, o infectado pode confundir com uma gripe. Para saber se já foi contaminado pela doença, o ideal seria fazer um exame de sorologia, que mede os níveis de anticorpos.
O infectologista José Geraldo pondera o combate à doença depende muito da população. “É não jogar garrafas pets pela janela do carro, não deixar água parada em casa. Medidas simples que poderiam evitar problemas mais sérios. Mas isso é negligenciado”, diz. No entanto, a estudante Joice Andrade Costa, 20 anos, reconhece que precisa redobrar os cuidados. Vítima da dengue em 1998, somente ontem ela percebeu que muitas garrafas plásticas estavam acumulando no quintal de casa. “Minha avó junta para uma senhora que vem aqui toda semana”, explica. Ontem ela resolveu recolher as garrafas.
A tia de Joice, a colhedora Elizabeth de Andrade Martins, 39 anos, não escapou da picada do mosquito. Há dois meses, foi infectada pela dengue. “Mas não senti tantas dores como as pessoas dizem sentir. Nem acreditei quando fui ao posto e disseram ser dengue”, conta. Para ela, a prevenção é fundamental. “Sei de pelo menos cinco vizinhos que tiveram dengue nos últimos tempos. Não sou muito de cobrar das pessoas, mas se vejo alguma coisa errada, falo”, afirma.
Tia e sobrinha moram em Venda Nova, a região com o maior número de casos confirmados de dengue. Até ontem, foram 11.354. Em seguida, aparecem a Norte, com 8.475, e a Noroeste, com 7.593. Para alguns moradores da região, os córregos contribuem para o problema. Ontem, o HOJE EM DIA flagrou dois carroceiros despejando entulhos num córrego localizado na Avenida Coronel Manoel Assunção, no Bairro Serra Verde. “Em dia de calor aqui fica insuportável, muito mal cheiro. Será que nada será feito?”, questiona o morador Renato Luis Rocha, 32 anos.

Córrego do Serra Verde é ameaça

Na Avenida República, no Bairro Jardim dos Comerciários, também em Venda Nova, um córrego tira o sossego dos moradores. Um deles é o aposentado Luis Ferreira, 47 anos. Para ele, as duas vezes que teve dengue, a última há cerca de dois meses, foi por culpa do local. “Tá cheio de garrafa aí dentro. Acumula água, né?”, diz.
A Secretaria Regional de Venda Nova, por meio da assessoria, informou que o córrego do Serra Verde será drenado assim que a Justiça decidir sobre a desapropriação de moradores nas imediações. Já na Avenida República, obras de drenagem serão iniciadas dentro de 15 dias. A limpeza nos locais é feita a cada quatro meses.
No combate à dengue, a Prefeitura de Belo Horizonte aposta nos mutirões e na mobilização da população. Na próxima segunda-feira, o mutirão acontece nas áreas de abrangência dos centros de saúde Ventosa, na Região Oeste; Felicidade I e II, na Região Norte; Santa Amélia, na Região da Pampulha. Na quinta-feira, a ação será realizada na área de abrangência do Centro de Saúde Mantiqueira, em Venda Nova. “Até agora fizemos 143 mutirões, com o recolhimento de 2 mil toneladas de lixo e 6.000 pneus”, enfatiza Pimenta.
... Fonte: "Jornal Hoje em Dia"

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