2 de dezembro de 2010

Prefeitura da capital fecha cerco à superbactéria

Até o final do ano, todas as instituições de saúde e laboratórios da capital mineira deverão seguir portaria que obriga notificar à vigilância sanitária municipal os casos da bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), conhecida como “superbactéria”. A decisão permitirá à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fazer um cadastro da incidência da doença na cidade para fechar o cerco ao micro-organismo que, de dezembro de 2009 até agora, registrou 47 casos de pessoas infectadas e dois surtos já controlados, além de seis mortes associadas.
As estatísticas sobre a superbactéria são bastante controversas, já que, em todo o Estado de Minas Gerais, até outubro de 2010, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou apenas 12 casos de infecção pelo micro-organismo e nenhuma morte, números bem menores que os da capital mineira, onde alguns casos ainda não foram contabilizados pela Anvisa. No Brasil, até agora, foram registrados 329 casos e 46 mortes pela bactéria, identificados em São Paulo e no Distrito Federal, segundo a Anvisa.
A portaria da PBH foi anunciada nesta quarta-feira (1º), durante audiência pública da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O processo de notificação será feito através de ficha-padrão no site da Prefeitura
A medida pretende contribuir para que se possa traçar um mapa da superbactéria na capital e das políticas públicas necessárias para minimizar sua disseminação para outros municípios, em caso de transferência de pacientes. Outras doenças, como a dengue e a gripe suína (H1N1), já têm notificação obrigatória na capital.
A gerente de Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde, Mara Corradi, lembra que 135 estabelecimentos na capital já fazem a notificação da superbactéria para a PBH. “Eles fazem a notificação, voluntariamente. Mas temos uma ampla rede de hospitais que ainda não seguem o procedimento”, afirma. É ela que inclui nos números de BH seis óbitos associados à superbactéria. “Não são óbitos causados exclusivamente pela bactéria. Eram pacientes graves, com uma série de doenças que poderiam levar ao óbito. Mas, certamente, a bactéria contribuiu para o óbito”, afirma a gerente de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Lúcia Paixão.
Além da notificação no âmbito municipal, a gerente da Vigilância Sanitária e Serviços de Saúde do Estado, Adriana Zapaterra, afirma que Minas Gerais está intensificando o trabalho nas ações de vigilância sanitária, citando a fiscalização dos processos de limpeza e de desinfecção de equipamentos nas instituições de saúde e o acompanhamento da atividade pelas comissões de controle de infecção nos hospitais. “Nossa maior preocupação é que os profissionais intensifiquem a higienização das mãos. Essa é a nossa maior luta”, admite Adriana.
O ato de lavar as mãos pode reduzir em até 30% o risco de contaminação, segundo o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Ernesto Ferreira Starling, para quem a discussão sobre os micro-organismos resistentes passa, ainda, pelo uso dos antibióticos em pacientes que ficam longos períodos internados, até a criação de UTIs com dezenas de pacientes, o que aumenta o risco da transmissão. “Além disso, temos, pelo menos, cinco bactérias que também são problemáticas, e o gene da KPC circula por todas elas”, alerta.
De acordo com a Anvisa, a notificação de infecções hospitalares sempre foi obrigatória para municípios e estados. Mas, com a identificação do surto da superbactéria, a Anvisa publicou uma nota técnica reforçando as medidas de controle de infecções por micro-organismos multi-resistentes.

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