13 de setembro de 2010

Obras que preparam BH para chuva são insuficientes


A Prefeitura de Belo Horizonte aproveitou o longo período de estiagem na capital – mais de cem dias sem chuvas – para tentar concluir algumas obras para conter enxurradas e evitar inundações. Pelo menos duas bacias de contenção (piscinões), uma no Córrego Bonsucesso, que corta as regiões Oeste e Barreiro, e outra no Córrego Engenho Nogueira, que passa pelas regiões Noroeste e Pampulha, ambos afluentes do Ribeirão Arrudas, estão em fase final de construção. Também o rebaixamento e a concretagem do próprio Arrudas estão praticamente concluídos.
Para especialistas, no entanto, obras localizadas e inacabadas podem comprometer o resultado final. O engenheiro civil Euler Magalhães da Rocha, superintendente do Instituto de Tecnologia de Prevenção de Desastres Naturais (ITPD) de Minas Gerais, entidade filiada à UFMG, considera as medidas adotadas pela PBH efetivas, mas ressalta que tudo dependerá da capacidade de acúmulo da água. “Há estudos pontuais, desenvolvidos em locais que já registraram problemas devido à chuva. Falta um programa de prevenção mais completo, que não se restrinja apenas a áreas já afetadas, mas que contemple a cidade como um todo, incluindo um amplo trabalho de prevenção de deslizamento de encostas”, avalia o engenheiro.
“As obras dos córregos devem ser concluídas até o fim desse mês”, garante o coordenador-executivo do Programa Drenurbs, Ricardo Aroeira, da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Já as obras nos córregos Olaria e Jatobá, na cabeceira do Ribeirão Arrudas, também na Região do Barreiro, devem ser finalizadas somente em 2011.
Para o aposentado Antônio Damião, 59 anos, que mora às margens do Córrego Bonsucesso há mais de 20 anos, as obras de contenção vão contribuir apenas para reduzir o problema. “Quando a chuva é forte e contínua, torrencial, as águas do córrego sobem rapidamente, inundando residências e comércios. Se a população não colaborar, deixando de jogar lixo nas encostas, as obras podem ser ineficazes”, analisa. A chuva que caiu no início da semana chegou a causar pequenos estragos no curso do córrego. No local há uma placa advertindo que as pessoas evitem atravessar córregos, pontes ou enxurradas em caso de chuva forte.
A mesma opinião tem a técnica em enfermagem Letícia Idelfonso Beraldo, 33 anos, que também mora na região e já presenciou várias enchentes. “As obras dão uma certa segurança; no entanto, a quantidade de água quando chove é muito grande, e o material atirado no córrego causa entupimentos”, assinala a mulher, que relembrou que no último ano a família quase ficou ilhada por causa das enchentes.
Segundo Ricardo Aroeira, além das obras no córregos Bonsucesso e Engenho Nogueira, as intervenções realizadas pela Copasa no fundo do canal do Arrudas, entre o Bairro Coração Eucarístico (Noroeste) e a Avenida Barbacena, também estão concluídas. “O fundo e as paredes do canal foram revestidos para garantir um melhor escoamento”, explicou.
Ainda de acordo com o coordenador-executivo do Programa Drenurbs, está em andamento, em caráter experimental, a implantação de um sistema de monitoramento e alerta contra inundações. Do alto de postes, sobre semáforos ou no interior das galerias subterrâneas e da rede de córregos, 42 estações compactas e automáticas de hidrometeorologia estão sendo instaladas e entrarão em funcionamento em várias regiões da capital.
Os aparelhos estarão em contato constante com uma Central de Inteligência, montada na sede da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) de BH. “Além das obras que estão sendo executadas, é importante implantar um sistema de monitoramento e alerta, e também mobilizar e preparar a população, principalmente as pessoas que moram em áreas consideradas de risco, para eventuais enfrentamentos de grandes chuvas”, explica Aroeira, que ressalta também a implantação de 37 núcleos de alerta de chuvas (NACs).
Os grupos são formados por aproximadamente 400 voluntários das áreas mais afetadas pelas enchentes e desmoronamentos. Eles foram capacitados pelos órgãos de defesa civil para mobilizar os moradores em momentos de emergência sinalizados por alarmes como os do sistema de estações. Na próxima terça-feira, a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) vai deflagrar a Operação Pente Fino, BH Viva, com distribuição de cartilhas educativas com orientações aos moradores sobre como identificar indícios de risco de deslizamento e inundação.
...Fonte: "Jornal Hoje em Dia"

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